Resenha de Livro
Do Nascimento à Morte – Novos Caminhos na Prática da Psicologia Hospitalar
A obra dividida em quatro seções aborda temáticas da prática clínica que permeiam a realidade do indivíduo doente, do nascimento à morte.
A primeira seção – Da perinatalidade à infância – abrange quatro capítulos. Iniciando com “A chegada do bebe cardiopata: a psicologia também está na sala de parto!” que de forma muito sensível traz a realidade do nascimento de crianças cardiopatas e os reflexos do adoecimento em um momento cercado de expectativas. A autora discorre sobre e a possibilidade de atuação do psicólogo em um ambiente novo e inusitado, a sala de parto e com isso nos mostra as nuances do acompanhamento desde o pré natal até o parto.
No capítulo seguinte, a mesma autora nos brinda com reflexões sobrea transferência na clínica com gestantes de bebes cardiopatas, desbravando as particularidades subjetivas do encontro da gestante com o terapeuta, bem como os encaminhamentos e frutos deste encontro.
No capítulo “A interface do vínculo mãe – bebê na UTI cardiopediátrica”, a autora discorre sobre a prática clínica e observação da díade mãe – bebê nesta unidade, a partir da psicanálise. O texto trata a questão da maternidade, expectativas e limitações provenientes da UTI e adoecimento, concluindo a importância da intervenção psicológica com a mãe na unidade, visando favorecer a aproximação e comunicação da mãe com o bebê.
Finalizando a primeira sessão, o capítulo “Vivências da família do paciente oncológico: um foco na criança” nos convoca a lembrar de um ator presente nas cenas de adoecimento e hospitalização – a criança, familiar do paciente – partindo do cenário oncológico trata a importância e os desafios preventivos relacionados à criança, a partir das repercussões emocionais geradas no pequeno familiar, que vivencia dúvidas, medos e incertezas. Neste sentido a autora apresenta um instrumento psico- educativo criado para auxiliar familiares de pacientes com câncer, favorecendo a ampliação dos recursos para lidar com a experiência de adoecimento do outro.
Na segunda sessão – O que o coração nos fala – há contribuições de diferentes autores sobre a prática clínica hospitalar no universo da cardiologia. Inicialmente em “O silêncio do coração: ausência de sintoma e adoecimento cardíaco”, a autora percorre os caminhos silenciosos da ausência de sintomas e seu potencial ensurdecedor quando convoca o sujeito a se haver com a realidade do corpo doente, discutindo e refletindo sobre os impactos do adoecimento e formas de enfrentamento para estes pacientes.
Na sequencia, em “Infarto agudo do miocárdio: quando a situação sai do controle”, a autora enriquece as discussões com a análise de um caso, a partir da teoria cognitivo comportamental, e aborda a questão da ansiedade como algo marcante nesta população, o que reforça a importância da avaliação e dos cuidados durante a hospitalização e quando possível no pós-alta.
Fechando a seção da cardiologia, o capítulo “A vivência com o coração artificial: tornar o artificial natural é possível?” toca em questões relativamente novas na realidade brasileira, o recurso dos VAD’S (dispositivos de assistência ventricular) como alternativa terapêutica. Focando especificamente em situações relacionadas a terapia de resgate e ponte para o TX, onde o uso do dispositivo é temporário, a autora delineia um percurso com questionamentos voltados ao paciente que precisa ligar-se à máquina, levantando questões relevantes como: as necessidades dos sujeitos com as novas tecnologias e a importante participação dos mesmos nas decisões que envolvem seu tratamento.
A seção 3 – A perda de si mesmo no hospital – inicia com o capítulo “Quadros de delirium no hospital geral: lidando com o desconexo através do vínculo” onde as autoras discutem além das frentes de atuação focadas na identificação do delirium, as possibilidades a partir da formação do vínculo. Questionam o que efetivamente é possível fazer neste contexto e concluem com os fragmentos de casos clínicos que a assistência pode ir além da orientação, quando há um vínculo entre paciente e psicólogo.
Segue com o capítulo “Laços no desenlace ou desenlace dos laços? Refletindo sobre família, luto e UTI” que propõe uma reflexão sobre a tríade do título. Após explanação inicial sobre as particularidades da UTI e a representação da morte, a autora discute sobre as possibilidades do acompanhamento familiar pós-óbito e o psicólogo diante da escuta do indizível, finalizando com a importância da identificação de fatores de risco para luto complicado e os encaminhamentos institucionais possíveis.
Em “Pílulas silenciadoras de sujeitos: Reflexões psicanalíticas sobre a medicalização no contexto hospitalar” as autoras, a partir da psicanálise, buscam indagar o papel do uso abusivo das medicações psicotrópicas na sociedade contemporânea, chamando atenção para os excessos das pílulas e o poder silenciador de sujeitos, decorrentes de tais excessos.
E por fim, na última seção – A qualidade permeando o trabalho do psicólogo nas diferentes clínicas – o leitor é convidado a adentrar um campo atual, importante e desafiador, os indicadores de qualidade em psicologia hospitalar. A autora nos mostra que a cada dia, as terapêuticas baseadas em evidência e os processos de Acreditação Hospitalar exigem que a psicologia apresente novas formas de mostrar o reflexo de seu trabalho no ambiente hospitalar.
Juliana dos Santos Batista
Membro do Conselho Fiscal | Gestão 2015-2017
Psicóloga | CRP 06/89319