Painel (Boletim 6)

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O ADOECIMENTO E SUAS PERDAS

paliativo 1A doença física é caracterizada por uma lesão orgânica que impactará a vida do indivíduo de forma momentânea ou prolongada. É desencadeadora de perdas reais e simbólicas significativas, que requerem adaptações e ressignificações para que haja um bom enfrentamento da situação. Neste cenário, enfrentamento é o acionamento dos recursos internos para lidar com situações de crise, onde inclui-se perdas e consecutivamente, o luto, e dependerá de inúmeros fatores. Este processo envolve sofrimento e com isso poderá ocasionar prejuízos emocionais ao paciente, sua família e também a equipe.

O adoecimento coloca o paciente em contato com suas limitações e com o fator humano que determina sua finitude. Lugar novo, assustador e desconfortável, exigindo uma ‘desacomodação reacomodativa’. As perdas pelo adoecimento traduzem o fim de uma condição física anterior e diversos desdobramentos de uma nova condição de vida, até o momento da morte. Em suma, se algo significativo como a saúde e as condições de vida associadas a esse processo se perdem, o paciente também poderá ser lançado ao processo de luto, uma vez que o mesmo é desencadeado por diferentes perdas significativas.

Ainda neste cenário, temos os locais e equipes de cuidado. Os dispositivos de saúde com sua estruturação calcada na recuperação e luta contra a doença, com equipes especializadas para se alcançar tal objetivo. O que nos convoca a refletir sobre os atores desta cena e suas im-possbilidades.

De um lado, paciente, família e muitas vezes a própria equipe, passando pelo luto das perdas do adoecimento e do outro lado diferentes fatores, como: a busca desenfreada pela cura e reabilitação, a agilidade dos processos em saúde e o desconhecimento das equipes sobre o luto por outras perdas além da morte em si, que colaboram, entre outros, para o não reconhecimento do luto pelo adoecimento.

Muitas vezes, o impacto sentido pelo paciente, família e equipe com o adoecimento é abordado como um problema a ser resolvido brevemente, o que faz com que o processo de luto vivenciado não tenha o espaço que lhe cabe na reabilitação ou reestruturação da saúde integral.

Portanto, lembremos que as perdas fazem parte de forma contínua da vida e do desenvolvimento pessoal, mas é necessário espaço para a vivência do luto, para a transformação da dor e a ressignificação do adoecimento. É necessário atuar a favor do reconhecimento deste luto, introduzindo espaços para expressão dos impactos das perdas e auxiliando na compreensão de que o tempo para tal processo é individual.

 

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Juliana dos Santos Batista                                                      Carolina Ribeiro Seabra
Membro do Conselho Fiscal | Gestão 2015-2017                 Diretora 2ª Secretária da SBPH (Gestão 2015-2017)
Psicóloga | CRP 06/89319                                                         Psicóloga | CRP 07/20340