Eventos recentes nos mostraram (novamente) a rapidez com que uma nova doença pode se espalhar, mobilizando sentimentos de angustia, medo, insegurança e impotência. Além disso, somos diariamante bombardeados por uma explosão de informações que variam desde sérias pesquisas clínicas e epidemiológicas, passando por videos disponibilizados por especialistas nas redes sociais, até rumores, boatos e teorias da conspiração.
Fato é que muito não se sabe sobre o COVID-19 e apostamos que em breve haverá novas descobertas científicas, juntamente com decisões governamentais, que nos servirão de norte para lidar melhor com a grave situação em que vivemos. Entretanto, não há como negar que, enquanto isso, a realidade nos impõe o afastamento físico de nossos familiares e amigos, o medo do “invisível”, a mudança de nossa rotina, a suspensão de nossos planos futuros e, por fim, mas não menos importante, o receio da contaminação. Assim, neste cenário ainda caotico é importante que procuremos formas de nos acalmar, até para que não coloquemos em risco à nos mesmos e aqueles que nos são caros. Assim, como poderíamos amenizar a ansiedade, afeto inerente e decorrente do que estamos passando?
Algumas ações podem minimizar o efeito desse sentimento. Primeiramente, é importante encontrarmos uma fonte confiável de informações e tê-la como referência principal. A informação comunicada de maneira confiável por profissionais de saúde e especialistas, pode nos proteger dos rumores e nos ajudará a obter uma idéia clara e objetiva do que está acontecendo. Em seguida, é fundamental fazermos uma análise de risco, a partir de perguntas simples, tais como: existe alguma razão para pensar que estou em risco? Existem casos (pessoas doentes ou em suspeitas de contaminação) com as quais entrei em contato? Se sim, estou há mais de 15 dias sem sintoma (tempo de incubação do virus)? Se estou com sintomas, esses se adequam aos três principais já divulgados, a saber, febre persistente, tosse e/ou dificuldade para respirar? A partir dissso, o que se pode fazer é um simples gerenciamento de riscos, que consiste em se atentar para o que pode ser feito para se proteger como lavar as mãos constatemente, evitar multidões e ficar em casa o máximo possível, para diminuir a exposição ao virus e consequente contaminação.
Outra medida importante é estabelcer uma rotina, mesmo que se esteja em casa. Se possível, separar o espaço e o tempo para se trabalhar, daqueles utilizados para descansar e se divertir. Ou seja, evite trabalhar onde se faz as refeiçoes ou assiste tv, por exemplo. Isso nos auxilia a ter a sensação de entrada e saída do trabalho, mesmo que esse esteja sendo feito em casa, para que os momentos de descanso sejam mais efetivos.
Além disso, não podemos confundir o “ficar em casa” com “isolamento”. O “ficar em casa” é uma condição para podermos nos proteger e minimizar os efeitos da pandemia que nos assola. O “isolamento”, por sua vez, é uma posição. Isso significa dizer que “estar em casa” não precisa se equivaler a se isolar dos amigos e familiares e colocar a vida e relações em suspenso. Sendo assim, as redes sociais neste momento tem um papel fundamental para que possamos estar próximos, mesmo que fisicamente distantes.
Evidentemente, todas essas orientações não excluem a necessidade do auxilio do psicólogo, quando o sofrimento não é minimizado com informações. Dessa forma, vários profissionais já estão disponibilizando o atendimento on-line*, como um espaço de acolhimento e reconhecimento do sofrimento, que se precipita em momentos em que nosso corpo, nossas relações e nosso lugar no mundo se encontram ameaçados e geram mal-estar.
Autores:
Nazaré Maria de Albuquerque Hayasida (FAPSI-UFAM), Pós doutouranda em Psicologia (PUC-RS). Membro da Diretoria da Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar (SBPH – Gestão 2017-2019 e 2019-2021).
Marcus Vinícius Rezende Fagundes Netto. Psicanalista. Doutorando pelo programa de pós-graduação do em Psicologia Clínica pela USP. Membro da Diretoria da Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar (SBPH – Gestão 2017-2019 e 2019-2021).
Referências:
Chih-Cheng Lai, Tzu-Ping Shih, Wen-Chien Ko, Hung-Jen Tang & Po-Ren Hsueh (2020). Severe acute respiratory syndrome coronavirus 2 (SARS–CoV-2) and coronavirus disease-2019 (COVID–19): The epidemic and the challenges. International Journal of Antimicrobial Agents. Volume 55, Issue 3, March, Article 105924
Freud, Sigmund (1929). O mal-estar na civilização. In: ______.O futuro de uma ilusão, o mal estar da civilização e outros trabalhos. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1996. (Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, V. XXI).
Leary, Robert L. (2011). Livre de ansiedade. Porto Alegre: ARTMED.
Li Duan & Gang Zhu (2020). Psychological interventions for people affected by the COVID-19 epidemic. Lancet Psychiatry. February 18. DOI: https://doi.org/10.116/S2215-0366(20)30073-0
Moretto, Maria Lívia Tourinho (2019). Abordagem psicanalítica do sofrimento nas instituições de saúde. São Paulo: Zagodoni Editora.